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Entrevista: Raul Boesel

(Renato Bellote) Como foi o começo da carreira no kart? Você já tinha vontade de ser um profissional das pistas naquela época?

Raul Boesel:  Na realidade começou meio por acaso, um amigo me convidou para ir ao kartódromo em Curitiba para ajudá-lo a empurrar o Kart, nesse dia me deixou dar umas voltas. Daquele dia em diante mudou minha vida, o que eu queria era correr de kart, tinha uns 14 anos, mas levou mais um ano para convencer meus pais a me deixarem correr.

(Renato Bellote) Do kart você disputou provas no Grupo C e, logo em seguida, foi para a Europa. Como se deu essa transição?

Raul Boesel: Parei o Kart aos 18 anos para entrar na Faculdade de engenharia civil, fiz 6 meses em Itatiba e várias vezes fui assistir corridas em Interlagos, o próximo passo era tentar correr de carro. Minha primeira corrida foi na inauguração do autódromo do Rio na categoria então denominada Grupo C, formada por Opalas e os Mavericks. Na época a corrida era dividida em duas baterias e podia ter dois pilotos, cada um correndo uma. Dividi o carro com um amigo de Curitiba que corria na época. Em 1978 fiz o Campeonato Paranaense sendo vice-campeão e disputei o Campeonato Brasileiro que era dividido em duas provas, uma em Goiânia e outra em Brasília e, por incrível que pareça, liderei a corrida de Brasília por um bom tempo. No ano seguinte foi o começo oficial da Stock Car no Brasil, ganhei 3 provas, disputei o campeonato até o final e fui considerado o piloto revelação do ano. Aconselhado pelo Afonso Giaffone fui tentar a sorte na F-Ford na Inglaterra e foi aí que começou o sonho de chegar a Fórmula 1   

(Renato Bellote) E chegar à Fórmula 1, era um sonho?

Raul Boesel: Quando comecei no automobilismo a Fórmula 1 era muito distante, coisa de sonho mesmo, desde o começo em minha carreira sempre fui muito concentrado e com muita perseverança, mas sem muitas expectativas, sempre dando um passo de cada vez. Quando os resultados foram positivos na F-Ford, venci 9 corridas e fui vice-campeão dos dois campeonatos mais importantes, vi que tinha potencial para um dia chegar a Fórmula 1.  

(Renato Bellote) Na Fórmula Indy foram quase vinte anos. O público norte-americano é diferente do europeu em relação a atenção que dá aos pilotos?

Raul Boesel: Acredito que sim, e a recíproca é verdadeira, os pilotos na Indy também dão mais atenção ao público, têm mais contato, existe uma admiração e respeito pelos pilotos, independente se está numa boa equipe ou não, se está tendo bons resultados ou não, só de você se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis já é considerado pelo público uma grande realização.

(Renato Bellote) Uma de suas principais características sempre foi a versatilidade. Poucos pilotos conseguem participar de categorias diferentes com sucesso. Isso acabou ajudando na carreira?  

Raul Boesel: Acredito que pelo começo de minha carreira ter sido em carros de turismo e depois Fórmula, me adaptei em diversos tipos de carro, mas também acredito que carro de corrida tem 4 rodas e pilotos têm que se adaptar a qualquer tipo.

(Renato Bellote) Você também foi um dos pilotos que abriu as portas para os brasileiros na Indy. Como se sente vendo que o caminho traçado teve seguidores e continua atraindo novos talentos do país?

Raul Boesel: Na verdade fui um dos pioneiros, mas o primeiro foi o Emerson Fittipaldi, corremos juntos por vários anos no início. Acredito que abrimos o mercado americano para os brasileiros que viram na Indy Car uma boa oportunidade para seguir a carreira.

(Renato Bellote) Uma de suas maiores conquistas foi o Campeonato Mundial de Marcas pela Jaguar em 1987. Conte-nos como surgiu a oportunidade de pilotar pela marca inglesa.

Raul Boesel: Acabei correndo na Jaguar por força das circunstâncias. De 1986 para 1987 tinha um acerto verbal e, como diz o americano, já tinha um shake hands (aperto de mão) com o Carl Hass para correr na Newman/ Hass em 1987. Estava tudo certo. No início do ano ele me liga dizendo que o Mário Andretti, que era o piloto da equipe, não queria um segundo carro de jeito nenhum. Acredito eu que pelo motivo de em 1986, por várias vezes, ter me classificado e terminado na frente dele com a pequena equipe do Dick Simon. Usávamos o carro Lola, só que a Newman Hass era a Lola de fábrica. Para concluir, me ofereci para fazer um teste na Jaguar em Paul Ricard e depois disso é história, acabei ganhando 5 corridas, o campeonato e foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha carreira.  

(Renato Bellote) Em 1991 você chegou em segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans. Qual foi a sensação de igualar o feito de José Carlos Pace nessa prova histórica?     

Raul Boesel: Fui fã de Carlos Pace, infelizmente por pouco tempo, já que sua carreira foi interrompida. É claro que me sinto orgulhoso, da mesma maneira que é frustrante ter chegado tão perto de uma vitória nessa corrida tão tradicional.

(Renato Bellote)  E falando novamente sobre a versatilidade, no ano 2.000 sua atenção se voltou para a água. O que dá mais emoção: acelerar sobre quatro rodas ou a Cigarette com dois motores de 1.100 cv?   

Raul Boesel: A sensação de velocidade na água é incrível, o barco chegava a 230 km/h, mas também a sensação de insegurança, o trabalho em equipe e a confiança mútua entre quem está no comando dos aceleradores (throttle man) e quem está pilotando tem que ser incrível. No meu caso eu pilotava e o Phil Lipschutz era o “throttle man”. Chegamos a fazer média horária no Campeonato Mundial em Key West, na Flórida, de 144 km/h com o mar com ondas de 6 pés. Difícil descrever a emoção.

(Renato Bellote) Muitas de suas vitórias ocorreram nas provas de endurance, como as 24 Horas de Daytona e Mil Milhas Brasileiras. Qual o ingrediente principal para vencer nesse tipo de corrida?

Raul Boesel: A primeira é ter uma equipe bem organizada e preparada para esse tipo de prova, saber fazer a estratégia da corrida, ter pilotos que sejam rápidos sem desgastar o equipamento em demasia, programar um ritmo de corrida competitivo e saber a hora de forçar mais o ritmo se for o caso. 

(Renato Bellote) Que balanço você faz do automobilismo brasileiro na atualidade?

Raul Boesel: Hoje a Stock Car sem dúvida é a categoria principal. Quando voltei para o Brasil definitivamente em 2003 e corri pela Equipe Repsol, acredito que abri os olhos de muitos outros pilotos mostrando que a categoria estava crescendo e se profissionalizando, podendo ser uma opção de carreira. Pilotos novos entraram na categoria assim como vários que não tiveram sorte em suas carreiras no exterior e estão hoje aí competindo e dando credibilidade à categoria. Já as categorias de fórmula não têm sustentabilidade, são muito caras e sem visibilidade, o que torna difícil para as equipes e também para os pilotos que estão visando uma carreira internacional.   

(Renato Bellote) Atualmente você assumiu com bastante êxito sua vertente de DJ. Como foi trocar o cockpit pelas pick ups? Já havia tido experiências anteriores com música?       

Raul Boesel: Sempre gostei de música, fazendo ginástica, running, dentro do avião, no carro ou em casa. E é assim até hoje, acompanhei o desenvolvimento da música eletrônica que é o estilo que gosto. Para você ter uma idéia em 1980 quando fui para a Inglaterra correr de F-Ford assisti ao show “The Wall”, do Pink Floyd. Nos últimos 7 anos já fui a vários festivais fora do Brasil e vou todo ano para Ibiza que é o centro da música eletrônica durante o verão europeu. Inclusive, já tive a oportunidade de tocar lá esse ano. No final de 2006 depois de mais de 30 anos no automobilismo comecei a achar que estava na hora de parar e dar o lugar aos futuros campeões. Depois dessa decisão passei a me concentrar 100% para aprender a arte de ser DJ. 

(Renato Bellote) O que podemos esperar de Raul Boesel para os próximos anos?

Raul Boesel: Estou levando essa nova profissão de DJ com o mesmo entusiasmo, profissionalismo e dedicação de minha carreira de piloto. Já faz dois anos que comecei, acabei de montar um estúdio em minha casa e estou tendo aulas de produção, espero em breve produzir várias músicas.   

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Renato Bellote, 44, é jornalista automotivo em São Paulo e colunista dos portais IG e Carsughi. Nesse canal traz avaliações a bordo de clássicos, superesportivos, picapes e modelos atuais do mercado.

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4 comentários em “Entrevista: Raul Boesel Deixe um comentário

  1. Torci muito pelo Boesel. O campeonato que ele ganhou de marcas foi sensacional. Se não me engano, teve um episódio dele em Indianápolis onde ele poderia ter ganhado a corrida, mas foi penalizado injustamente.

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  2. Putz ,naquele tempo de Indycar o Boesel até correu para bons time ,mas sempre na hora errada ! Aquele Lola acima é do time Shierson em 89 e a equipe era boa ,vinha de otimos campeonatos com Al Unser Junior ,mas quando o Boesel entrou no time eles usaram motor Judd ,era o pior naquele ano ,e quando o Boesel saiu do time a Shierson passou a correr de Ford que era um canhão e venceram até as 500 milhas. Outro exemplo foi em 90 ,o Boesel passou a correr com o time Truedsport que era bicampeão com Rahal ,mas justamente em 90 eles continuaram a correr com o Lola antigo porque estavam desenvolvendo um chassi proprio e a temporada foi perdida para o time e para o Raul . E finalmente quando Boesel entrou no lugar do campeão Villeneuve no time Green em 96 ele teve uma impressionante serie de quebra de motor no sistema eletrico que ninguém sabia explicar direito . Nunca pude entender direito o porque disso tudo. Será que faltou algo nos bastidores?

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